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voltarSplit Payment no Brasil e a Reforma Tributária: desafios práticos e efeitos nos fluxos de caixa empresariais
Como o pagamento fracionado split payment afeta a gestão financeira e contábil das empresas brasileiras
A Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), trouxe para o Brasil um conceito amplamente utilizado em sistemas de IVA internacionais: o split payment — ou pagamento fracionado.
No novo modelo, parte do valor pago pelo comprador é direcionada automaticamente aos cofres públicos, sem transitar pelo caixa da empresa fornecedora. Esse mecanismo altera substancialmente a forma como as empresas gerenciam seu fluxo de caixa, contabilizam tributos e planejam financeiramente suas operações.
O que é o Split Payment segundo a LC 214/2025
O split payment, no contexto do IBS e da CBS, consiste na retenção e repasse direto do valor dos tributos destacados na nota fiscal ao ente federativo competente, no momento da liquidação financeira da operação.
Exemplo prático:Venda de mercadoria com base de cálculo de R$ 100.000,00:
- IBS: 10% = R$ 10.000,00
- CBS: 9% = R$ 9.000,00
- Total NF-e: R$ 119.000,00
Com o split payment:
- A empresa recebe R$ 100.000,00 (valor líquido sem tributos);
- Os R$ 19.000,00 são transferidos automaticamente aos fiscos (IBS para o comitê gestor e CBS para a Receita Federal).
Fundamentação legal
A LC 214/2025 prevê o split payment como mecanismo de arrecadação e controle, alinhado ao princípio da neutralidade e ao combate à sonegação. Ele será operacionalizado por meio de:
- Integração com sistemas de pagamento eletrônico;
- Campos específicos na NF-e (conforme Nota Técnica 2025.002-RTC) para identificação das parcelas tributárias;
- Ambiente de compensação gerido pelo Comitê Gestor do IBS e pela Receita Federal para CBS.
Efeitos práticos no fluxo de caixa
A adoção do split payment reduz a autonomia da empresa sobre o caixa. Antes, havia um intervalo entre o recebimento e o recolhimento do tributo (permitindo gestão de prazos e aplicações). Agora:
- O valor do tributo não compõe mais o saldo bancário da empresa;
- Não há possibilidade de postergação do recolhimento para planejamento de tesouraria;
- A projeção de entradas líquidas deve considerar apenas o valor sem IBS/CBS.
Impacto direto: empresas que utilizavam o ciclo de caixa tributário como fonte de capital de giro precisarão rever estratégias de financiamento.
Reflexos contábeis
Na contabilidade, o split payment exige:
- Registro da receita líquida: IBS e CBS destacados não integram a receita bruta, sendo contabilizados como passivos fiscais que são baixados no ato do repasse automático.
- Apropriação de créditos: mesmo sem transitar pelo caixa, os tributos pagos geram créditos, que devem ser controlados no ativo fiscal e utilizados na compensação de débitos futuros.
- Conciliação automatizada: integração entre ERP e bancos para confirmar valores repassados diretamente ao fisco.
Desafios para as empresas
- Adequação de sistemas: ERPs precisam estar integrados aos novos leiautes da NF-e e aos módulos bancários para refletir o split payment.
- Treinamento de equipes: departamentos contábil, fiscal e financeiro devem dominar o novo processo.
- Gestão de capital de giro: replanejamento de fontes de financiamento diante da perda de controle sobre a parcela tributária.
- Comunicação com fornecedores e clientes: ajustes contratuais e negociais para adequar prazos e formas de pagamento.
Estratégias para mitigar impactos
- Revisar políticas de crédito e prazos de recebimento para equilibrar entradas e saídas;
- Negociar com instituições financeiras linhas de crédito específicas para o período de adaptação;
- Aprimorar controles de estoque e logística para otimizar o giro de capital;
- Implementar conciliação diária entre notas fiscais emitidas, valores recebidos e créditos tributários apropriados.
Conclusão
O split payment no Brasil representa um avanço no combate à evasão fiscal e aproxima o país das melhores práticas internacionais de arrecadação. No entanto, traz desafios significativos para a gestão de caixa e a contabilidade das empresas, que precisarão de planejamento, tecnologia e adaptação cultural para operarem de forma eficiente nesse novo ambiente tributário.
Empresas que se anteciparem — investindo em automação fiscal, revisando seu fluxo de caixa e capacitando equipes — estarão mais preparadas para transformar o split payment de um desafio em um diferencial competitivo.